Não
temos lugar juntos no futuro
Talvez
o digamos, assim, de colega ou conhecido
Ou
do vizinho de cima ou do lado, da frente ou de baixo
Raramente,
diremos de um amigo
Menos
ainda de quem nos é de sangue
E
nem falo em primo ou tio
E
nem falo em irmão
Nem
falo de pai ou mãe
É
de filho que digo
Eu
que nem em santo nem nos deuses acredito
Não
temos lugar juntos no futuro
Não
temos, não
Apesar
dos genes
Apesar
do leite que me subiu aos seios e lhe foi alimento
Apesar
de o ter aninhado nos braços
Tê-lo
cuidado
Não
temos lugar juntos no futuro
Que
eu julguei que eram de amor cada um dos meus gestos
e
terão sido apenas ilusões
Apenas
gestos que compunham
Nada
mais que gestos a condizer
Que
eu não terei sabido
(não
soube, decerto)
Não
terei sabido dar mais que o leite que me subia intenso e farto
Descurei
de olhá-lo, a ele
Mesmo,
a ele
E
terei faltado com o amor que lhe era necessário
Não
temos lugar juntos no futuro
Deixei
que ele me fugisse pelos poros
Por
cada um dos interstícios do meu corpo
Perdi-o
Dores
mais dolorosas que as que tive para o trazer a este mundo
Não
temos, não, lugar juntos no futuro