quinta-feira, abril 06, 2006

ir

amanhã vou deixar isto. vou andar por aí fora, passo ante passo e correndo ao desgaste do pulmão. vou. partir deste marasmo. encalhar comigo numa esquina e sentar-me de cócaras roendo os sabugos de cada uma das unhas ao fim do terceiro dia. vou. e cairei na berma de um passeio a dois passinhos da casa do pão. mais tarde cairei no poial da casa da sopa. trar-me ão água. dar-me-ão pão com doce. apertarei na mão a moeda. segurarei o copo e o pão com a outra mão.um dia passarão muitos dias depois de amanhã. um dia eu nem saberei se foi amanhã que decidi partir ou antes ou muito depois. saberei, sim, que tenho uma bota rota e a minha roupa cheira ao cão que deixei na casa grande. na loja de espelhos com muitos a brilhar em cima de vidros, o meu riso enrolou-se nos lábios dependurados nas gengivas. os olhos. só me restarão os dois olhos límpidos de vida e de choros. amanhã se souberdes que parti, não me leiam o futuro aqui descrito.
quero ir.

(mcorreia)

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