eu tenho muito medo das palavras
cada juntar de letras
ditongos,
uma só sílaba
afiada como bico de roseira
dente de ancinho arrebanhando folhas
as palavras unem-se
linhas de escrita semelhando fios de lâminas
receio-as
ensaiam que me degolam
pregadas como vozes
murmuram, choram,
riem desalmados risos pelas entrelinhas
e gritam
sons abafados em águas de poços
assustam-me
ficam-me as páginas repletas de vermelhos
que as palavras sangram
vulvas e tripas e corações
golpes de machado, facas, tiros
simples sangrares de parto ou
donzela desvirginada
ou menstruo
corpos vestidos a rigor
ou nus
as palavras
vagueiam como fantasmas
e são Marílias e Josés e Ritas e Augustos
gentes de muitos nomes que nunca eu vira antes
e eu tenho medo e nem me atrevo
como hoje
adaptado de um escrito de 29/1/09
1 comentário:
eu também tenho medo das palavras, esse "adpatado" então, é assustar.
;D
o que me vale é que as fumo. morrem-se-me incineradas como num forno nazi.
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