segunda-feira, outubro 10, 2011

escrever




eu tenho muito medo das palavras
cada juntar de letras
ditongos,
uma só sílaba
afiada como bico de roseira
dente de ancinho arrebanhando folhas
as palavras unem-se
linhas de escrita semelhando fios de lâminas
receio-as
ensaiam que me degolam
pregadas como vozes
murmuram, choram,
riem desalmados risos pelas entrelinhas
e gritam
sons abafados em águas de poços
assustam-me
ficam-me as páginas repletas de vermelhos
que as palavras sangram
vulvas e tripas e corações
golpes de machado, facas, tiros
simples sangrares de parto ou
donzela desvirginada
ou menstruo
corpos vestidos a rigor
ou nus

as palavras
vagueiam como fantasmas
e são Marílias e Josés e Ritas e Augustos
gentes de muitos nomes que nunca eu vira antes
e eu tenho medo e nem me atrevo
como hoje



adaptado de um escrito de 29/1/09

1 comentário:

francisco disse...

eu também tenho medo das palavras, esse "adpatado" então, é assustar.
;D


o que me vale é que as fumo. morrem-se-me incineradas como num forno nazi.