As minhas mulheres são tão mulherzinhas
Tão pequeninas
Ataviadas de pensares estreitos e vestidas
Sempre vestidas com casacos e golas e meias
As mulheres que escrevo não retratam gente
Estereotipam burguesas ataviadas de merda
Elas cruzam as pernas muitas vezes
Mulheres convencidas que são civilizadas
Sorriem e sentem muita pena
E muitas delas vão a missas
ou rezam
Ou dizem que não acreditam, o que vem a dar na mesma
São confiantes no futuro e sabem
sabem as terras e os países e os nomes de quase tudo
O que não sabem é viver no deserto
ou viver na floresta
ou viver sem água da torneira e sem o ar condicionado
o ar que aqueça e arrefeça a jeito
(saberão viver sem a gasolina para o carro?)
São figuras de estilo dependuradas de sentires a preceito
amam os filhos
amam um homem que pode ser o marido
têm um emprego e uma casa e muitas viajam
Não andam pelas ruas a pedir para o sustento
nem carregam sacas de trigo para ganhar um pão
nem amamentam os filhos enquanto apanham o arroz do chão
nem cavam terra seca em busca de nada
Não vivem em países do terceiro mundo
não morrem com os ossos a furar a pele
não são batidas por homens: maridos ou irmãos
não as apedrejam se fodem
não as condenam à forca antes dos dezoito
As minhas mulheres andam sempre calçadas de botas e de meias
descalças só pela casa sem pedras que magoem
descalças só em areias de praias, por passeio
E têm animais de estimação
um gato ou um cão, as mais das vezes
Sabem os filmes que decorrem
vão ao ballet e à ópera
e nas noites mornas abrem as janelas quando dormem
Mulheres de outros tempos, as minhas mulheres
Se fossem jovens de hoje:
Ai se fossem jovens, elas
andavam nos centros comerciais
iam com os filhos à Disneylândia
comiam hambúrgueres e mandavam vir uma pizza pelo telemóvel
E trabalhavam muito pela carreira
trabalhavam nas horas em que comem
trabalhavam sempre correndo.
As minhas mulheres são mais calmas
mas pequenas
Reduzidas àquele conjunto que tem pena
que não sabe mais do que lhe anda mesmo por baixo do faro
as que vêem TV
as que se rebelam contra a guerra
no curto intervalo em que dura o noticiário
Mulheres mesmo daquelas que existem sem que falem delas
Mulheres dessas, nunca eu as escrevo
Não as sei
não das Mulheres que fazem o Mundo e a Humanidade
(é delas que se fala na História, não é?!)
Tão pequeninas
Ataviadas de pensares estreitos e vestidas
Sempre vestidas com casacos e golas e meias
As mulheres que escrevo não retratam gente
Estereotipam burguesas ataviadas de merda
Elas cruzam as pernas muitas vezes
Mulheres convencidas que são civilizadas
Sorriem e sentem muita pena
E muitas delas vão a missas
ou rezam
Ou dizem que não acreditam, o que vem a dar na mesma
São confiantes no futuro e sabem
sabem as terras e os países e os nomes de quase tudo
O que não sabem é viver no deserto
ou viver na floresta
ou viver sem água da torneira e sem o ar condicionado
o ar que aqueça e arrefeça a jeito
(saberão viver sem a gasolina para o carro?)
São figuras de estilo dependuradas de sentires a preceito
amam os filhos
amam um homem que pode ser o marido
têm um emprego e uma casa e muitas viajam
Não andam pelas ruas a pedir para o sustento
nem carregam sacas de trigo para ganhar um pão
nem amamentam os filhos enquanto apanham o arroz do chão
nem cavam terra seca em busca de nada
Não vivem em países do terceiro mundo
não morrem com os ossos a furar a pele
não são batidas por homens: maridos ou irmãos
não as apedrejam se fodem
não as condenam à forca antes dos dezoito
As minhas mulheres andam sempre calçadas de botas e de meias
descalças só pela casa sem pedras que magoem
descalças só em areias de praias, por passeio
E têm animais de estimação
um gato ou um cão, as mais das vezes
Sabem os filmes que decorrem
vão ao ballet e à ópera
e nas noites mornas abrem as janelas quando dormem
Mulheres de outros tempos, as minhas mulheres
Se fossem jovens de hoje:
Ai se fossem jovens, elas
andavam nos centros comerciais
iam com os filhos à Disneylândia
comiam hambúrgueres e mandavam vir uma pizza pelo telemóvel
E trabalhavam muito pela carreira
trabalhavam nas horas em que comem
trabalhavam sempre correndo.
As minhas mulheres são mais calmas
mas pequenas
Reduzidas àquele conjunto que tem pena
que não sabe mais do que lhe anda mesmo por baixo do faro
as que vêem TV
as que se rebelam contra a guerra
no curto intervalo em que dura o noticiário
Mulheres mesmo daquelas que existem sem que falem delas
Mulheres dessas, nunca eu as escrevo
Não as sei
não das Mulheres que fazem o Mundo e a Humanidade
(é delas que se fala na História, não é?!)
foto Botero
6 comentários:
A melhor obra que Deus criou!!
Beijos e abraços!
Fátima sinto saudades dos teus poemas e da intesidade que escreves. Bjs
Fátima, uma homenagem para o fia internacional das mulheres. Sei que todos os dias são de todas as mulheres. Mas este cabe muito bem.
Vc tem imagens belíssimas
comoveste-me, raios!
c
Fabuloso!
Ouvir hoje este poema dito por ti ...foi mágico!
Obrigada
Jinhos
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