quarta-feira, abril 15, 2015

mea culpa





Não temos lugar juntos no futuro

Talvez o digamos, assim, de colega ou conhecido
Ou do vizinho de cima ou do lado, da frente ou de baixo
Raramente, diremos de um amigo
Menos ainda de quem nos é de sangue
E nem falo em primo ou tio
E nem falo em irmão
Nem falo de pai ou mãe
É de filho que digo
Eu que nem em santo nem nos deuses acredito

Não temos lugar juntos no futuro

Não temos, não
Apesar dos genes
Apesar do leite que me subiu aos seios e lhe foi alimento
Apesar de o ter aninhado nos braços
Tê-lo cuidado

Não temos lugar juntos no futuro

Que eu julguei que eram de amor cada um dos meus gestos
e terão sido apenas ilusões
Apenas gestos que compunham
Nada mais que gestos a condizer
Que eu não terei sabido
(não soube, decerto)
Não terei sabido dar mais que o leite que me subia intenso e farto
Descurei de olhá-lo, a ele
Mesmo, a ele
E terei faltado com o amor que lhe era necessário

Não temos lugar juntos no futuro

Deixei que ele me fugisse pelos poros
Por cada um dos interstícios do meu corpo
Perdi-o
Dores mais dolorosas que as que tive para o trazer a este mundo

Não temos, não, lugar juntos no futuro




1 comentário:

wind disse...

Dorido, muito.
Beijos