Um par de calças
Uma blusa
Um casaco de ganga
com dois botões de falta
Dois pares de peúgas
Umas cuecas de medida alta.
Remexeu mais no saco.
No fundo havia uma gravata
Uma gravata vermelha
Uma gravata muito encarnada.
Calçou umas peúgas
As cuecas enfiou perna acima
Fez o mesmo com as calças.
Colocou a blusa
Na mão pôs o casaco.
Chovia enquanto se vestia.
Caminhou desengonçada
As botas gastas
Molhadas
As botas muito altas
Muito brancas e altas.
Deixou para trás
a gravata vermelha
Na chuva da calçada
sangrava de encarnado.
Duas peúgas pretas
Rezavam
Ajoelhando ao lado.
5 comentários:
"Duas peúgas pretas
Rezavam
Ajoelhando ao lado."
este final a mim dà um toque espetacular a todo o desenrular do poema,gostei bastante e mais ainda da imaginaçao de quem escreve assim, os meus parabens, deste que escreve tambem, mas que ainda inicia, mas que olha para o poema como quem gosta de ler e nao de escrever.
by: P.
obrigado pelo aviso...como ando distraido, desculpa. será visita ( minha) esta tua nova praia...
Claro. Era "fatal" que chovesse, como quem chora...
Belíssimo Poema!
Um poema que me causou um aperto no coração... não sei porquê...
"...Duas peúgas pretas
Rezavam
Ajoelhando ao lado."
Beijo terno ;)
E depois pedes perdão! Os teus poemas (como a prosa) transbordam de humanidade. E talento, claro. Mas há um traço teu, inconfundível, essa espécie de abraço que dás nas palavras... olha estou para aqui a dzer asneiras... :))
Beijão
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