longuíssima seria a caminhada
ela sabia
um passo e mais um outro
enorme, lisa, comprida, a estrada deslizava
um passo e dois e mais uns vinte e oito
ela andando deslargada de vida
onde? para onde?
caminhava: um pé depois do outro
uma madrugada cor de rosa e uma tarde de chuva
um anoitecer com gatos num muro branco
e noite
uma e outra noite e ela caminhando sem descanso
e o medo
um recanto de si pulsando ao ritmo do ir
o temor da sombra deslizada - de noite
e tarde e dia - um a seguir ao outro - medo, medo, medo
nem flores nem segredados, nem choros
nem um riso nem o cheiro de flor nem um bordado
uma sombra que fosse de raminho de árvore
nada mais que um pé depois do outro
e ela a querer não ir, ela a querer
sentar-se na berma húmida e perder-se
desistir de ter partido
quando? para onde?
e no final a certeza de ter terminado tudo
de ter sequer lembrança de existir
um e mais um outro
dois, três, seriam trinta e muitos
e nem apenas um lhe recordando
um passinho mesmo que miudo, mesmo que descalço
que lhe dissesse segredando
um dia foste, um pé depois do outro
5 comentários:
Saiu muito bom o poema a partir da idéia lá do estúdio, Maria.
Fantástica.
Uma brincadeira de passa anel como eu disse. A Márcia plantou uma muda que vc replantou de outro jeito.
"...e o medo
um recanto de si pulsando ao ritmo do ir..."
Que lindo menina das letras!;hoje vivo pulsando ao ritmo do chegar...
Beijo, querida
Excelente, Escritora!
Beijos
Linda a idéia. Muito boa esta troca...
só agora vi... muito lega, fátima!
reconheço minha semsnte, mas vejo tua árvore...
beijo
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